quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Ancora


Quando um dançarino rodopia, a única forma de não perder o equilíbrio é fixar com os olhos e a cabeça, um ponto, rodando a cabeça quando a rotação do corpo o faz perder esse ponto, de forma a minimizar o espaço de tempo sem ponto de referência. Assim corpo e cabeça rodam a velocidades diferentes e a existência de um ponto de referência mantêm o equilíbrio. Há muito tempo li uma história de dançarinos que usavam o espaço, sem gravidade e sem ponto de referência próximo, sem limites. A diferença é brutal na medida em que a dança se desenrolava num ambiente que não obedecia aos pressupostos usuais: os movimentos tradicionais e habituais eram impossíveis e a dança adquiriu novas coreografias e novas perspectivas de visualização (Raios não me lembro qual era a truque para manterem o equilíbrio). No SL, precisamos de manter um ponto de referência, em princípio ligado à nossa estrutura de valores. A questão que se coloca é se, assim, não estamos a reproduzir pressupostos da vida real ou, qual os que deveremos ou poderemos abandonar de forma a perspectivar um espaço completamente diferente. A resposta é simples e não linear: cada um abandona ou não alguns ou nenhum desses pressupostos e as perspectiva que tem do sl são dessa forma desenhadas, resultando numa multiplicidade rica e globalizante.

domingo, 18 de outubro de 2009

Realidade



A minha realidade caiu aos doze anos quando descobri numa revista de ciência brasileira (lida apaixonadamente) que era virtualmente impossível medir a distância entre duas partículas dado que afectávamos, na medição, a própria distância. Agora sei que um disparo sucessivo de uma mesma partícula gera diferentes padrões dependendo do facto de existir ou não um mecanismo de observação que interfere com o comportamento das mesmas.

Mais tarde, uma serie de ideias esvaíram-se quanto retirei a tampa da água da banheira, em desespero por ter obtido várias medidas da mesma dependendo da posição em que me sentava e do volume que ocupava. Hoje, agora, olho para esta mesa onde apoio o portátil e verifico de forma simples os seus contornos e uma série de leis claras que a definem como real; no entanto sei que se me debruçar mais sobre ela e, sobretudo, se a penetrar de forma a observar as suas partículas, descubro um diferente universo, regido por leis e pressupostos até antagónicos.

Afinal, a mesa não representa uma realidade apenas, mas duas, em universos diferentes, e talvez mais, dado que a minha própria observação e as questões que sobre ela coloco estão limitadas pela minha mente.

Apesar de Kant ter afirmado que os seres humanos não poderão conhecer a realidade tal como ela é, é provável que esta problemática em volta de uma mesa, da realidade tal como a vemos, provoque alguns risos ou mesmo desperte questões do género do habitual, tipo “O que andas a fumar pá?”. Este riso, o chamado riso cósmico que há décadas me incomoda e me isola dá-me agora prazer, dado que me indica finalmente uma distância vertical num mesmo, aparentemente, plano horizontal. O problema é que a realidade não é democrática e que, como tal, a não ser que pretenda deliberadamente produzir nos outros umas gargalhadas e aumentar dessa forma a sua felicidade, o melhor seria não deambular verbalmente em volta de uma mesa ou de uma banheira com água.

Aquela que parece ser a unidade básica do universo, uma partícula de massa extremamente densa que origina a massa das suas congéneres, ainda não pescada pelas grandes traineiras de aceleração, pode ser fundamentalmente informação e consciência. Pelo que a consciência poderá criar a realidade tanto neste sentido como no inverso, uma vez que a minha visão da ou das várias realidades, depende da “consciência de si” e da construção que fazemos encerrados na limitação dos sentidos.

Mas para além desta e dos referidos pelo autor da frase, existem outros “ópio do povo”, nomeadamente o paradigma e o sono pouco profundo em que se encontram mergulhados, para além de algumas instituições sociais antigas e fortes.

Neste sono, é impossível existirem verdades ou realidades paralelas, de diferentes profundidades, ou mesmo em antagonismo coexistente. Não existem escalas cinza, muito menos 12 tipos de branco e os copos ou estão cheios ou vazios (nunca ambos em simultâneo), as coisas e as pessoas ou são ou não são, as ideias são boas ou más, ou se odeia ou se ama - e nunca uma pedra, ainda menos várias.

O Paradigma



Depois de Descartes separar a mente do corpo e o Homem da Natureza, de Francis Bacon definir o método científico, de Newton estabelecer o universo mecânico e matemático, o paradigma materialista e mecânico domina de forma parcialmente inconsciente as nossos pensamentos e escolhas e a forma como observamos a realidade. Real é aquilo que é mensurável, cuja percepção pode ser conseguida pelos nossos cinco sentidos, banindo a subjectividade dos sentimentos, das paixões, da imaginação ou da intuição, separando mente e corpo.

Fomos educados segundo este paradigma pelo que é o mesmo que tentamos transmitir, enquanto educadores, às gerações seguintes, e aquele pelo qual, pautamos as nossas acções e pensamentos.

A libertação dos limites estabelecidos por este conjunto de pressupostos, impostos pelo subconsciente individual e social exige um esforço do indivíduo no despertar para a análise dos sulcos e elevações da consciência. Um novo paradigma emergente, foge à lógica material e mecânica ao percepcionar o indivíduo e o universo como organismos vivos integrados, numa matriz de energia e informação quântica, que coloca em causa a noção de realidade e cujo equilíbrio/colapso quântico se dá no indivíduo.

Em alguns casos, é apenas quando confrontado com experiências extremas, ou quando se encontra a braços com o vazio, que o indivíduo consegue ultrapassar a segurança e a certeza das suas crenças. Noutros, procede a uma análise e observação dos seus vários níveis de consciência, despertando para uma sobre-consciência individual e colectiva/cósmica, atingindo um conhecimento profundo do seu corpo e da sua mente, conseguindo alterar as suas convicções, percepções, formas de se relacionar com os seus semelhantes e com o mundo.