terça-feira, 18 de agosto de 2020

Austrália tão longe e tão perto


Há muito tempo, vagueava numa praia australiana. Os detalhes são inesquecíveis e revelavam a preocupação de um Criador meticuloso.

Aqui uma árvore, onde se pendurava um koala, alguns Cangurus saltitavam no chão, tartarugas moviam-se lentamente em movimentos circulares.

O mar trazia o som real das ondas que se espraiavam em espuma na areia, e a música convidava ao romance.

Um rectângulo de erva marcava um bom sitio para dançar, e nos seus cantos pequenos fardos de palha empilhados prometiam mais que bons momentos de descanso.

O nome do Criador perdeu-se no tempo, mas só o nome: tinha cabelos compridos e um corpo magro. Vivia numa área de muita vegetação e, apesar de ter companhia, estendia o corpo lânguido na praia à mercê de um toque, de dedos que a tornassem harpa.

A comunicação era assim, dedos em letras, cérebros em dedos, e tudo era possível, pois entre cérebros, sem mais nada é assim.

Hoje, nos tempo de afastamento físico, exigido pelas circunstâncias, recordo em segredo, o que não se pode contar acerca da comunicação a distância: a terminologia própria, as palavras especificas, a tradução de sons e emoções, os momentos que em conjunto construíam aquelas e as faziam perdurar no tempo.

A Sedução aprendia-se, e aperfeiçoava-se essa arte: as mentes ligavam-se e sibilavam em conjunto em luz e vocábulos.

As palavras que escrevia, não há palavras que as possam descrever. Eram directas, como químicos, directas aos centros responsáveis pelas emoções.

Tanto que as pessoas desconhecem dessa arte da construção de relações. Tanto que perdem. Tanto que não encontro.

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