quinta-feira, 9 de novembro de 2023

NOCTURNO

 



Naquele mundo,

Os animais
podiam falar,
mas não o faziam,
Pelo menos em público.
Por isso o Corvo era mesmo isso
Não vontade de falar,
necessidade de espaço,
e isolamento escolhido.
Como símbolo da noite,
era o noite por opção,
era todo ele nocturno,
e foi isso que a escritora
lhe chamou.
O que ela viu nele
está na página do seu livro,
e é ele ainda.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Crow's Bar



O Sono foi um tanto sobressaltado. Ao cair da noite voltei a ouvir a Diva Argentina que me lembra sempre June. Conheci June No Crow's Bar, mas é melhor ir ao início.

Em Pombal, médicos especialistas em comportamentos aditivos falavam há uma década atrás sobre os perigos que a internet viria trazer. No final, um académico, Paulo Frias, (Palup Ling) apresentou o sl como ambiente de aprendizagem. Claro que me despertou a curiosidade e entrei nesse mundo. No login, fui rápido e nem vi bem as opções relativamente ao país e língua, o que me levou a entrar no sl como alguém de língua nativa inglesa. 

Quando entrei caí numa ilha nativa australiana, na qual depois de dominar o Avatar conheci alguém que ajudava os avatares acabados de chegar. Não me lembro do nome dela, mas uma noite levou-nos a uma festa num bar, o que mencionei acima.

Foi uma imersão numa experiência multicultural, pois no Bar existiam avatares de todas as nacionalidades, A Lyn era escocesa e o Clive Inglês, os donos do sim. O Ooj era americano, a Fab Francesa, etc.

Durante um período longo, mesmo muito longo, apenas convivi com avatares estrangeiros (Cerca de um Ano). É muito difícil, para quem não conheça o sl, imaginar o que é um ano e perceber qual a razão pela qual pode equivaler a 6 no rl (real life).

No sl, tudo é possível, virtualmente. Se pudermos imaginar que na vida real fosse possível fazer tudo quando nos apetece, facilmente se concluirá que o tempo ganha uma outra dimensão e seria totalmente preenchido de experiências. Mais experiências, num período mais curto. Tudo muito mais rápido e nesse sentido, uma vida mais intensa.

Num minuto podemos querer ver Paris, noutro passear com alguém de barco no Tejo, noutro cavalgar nas planícies americanas, noutro rodopiar com alguém no braços, no Arrabal Tango Club, Argentina. O único limite é o da imaginação.

O Crow's estava sempre apinhado à Sexta-feira à noite, tirando algum evento especial, em rezz day (dia de aniversário de um avatar no sl), ou eventos rl que eram transportados para comemorações sl.

Hoje penso que, tal como noutros casos, se tratava de uma tribo, ou antes, de um mundo onde existiam muitas tribos. Cada um sabia ou não porque estava ali e eu penso que, hoje, sim.

June aparecia pouco, Lyn dizia sempre que ela era muito calada, que não se sabia muito sobre ela, apenas que era uma pessoa muito ocupada. O mistério e o desconhecido estimularam a minha curiosidade natural e, aos poucos e poucos, fui tentando falar com ela.

Nessa altura, o meu inglês escrito era do pior, mas um ano a comunicar-me em inglês escrito melhorou bastante a situação. Mais tarde uma grande ajuda veio de um salão de baile, de uma outra amizade que se desenrolou um teia própria, mas essa é outra de muitas histórias.

No Crow's imperava uma espécie de humor inglês, aprimorado por todo o tipo de contribuições culturais, vindas de avatares, muitos dos quais, após mais informações eram professores universitários ou desempenhavam cargos importantes.

A esclarecer que nunca encontrei, em um ano, com uma excepção apenas, alguém com idade inferior a 20 anos. Pode-se perguntar como se sabe a idade de alguém perguntando, sem ver a pessoas e sem as conhecer, sem saber se estão a dizer a verdade. Pois a idade não se pergunta sem se conhecer alguém quase intimamente, e na maior parte das situações nunca a perguntei a ninguém. Outras perguntas traziam a idade à flor da pele e a técnica e desafio era a sua construção: um livro, um filme, um acontecimento, uma memória.

Hoje discute-se a comunicação a distância. Naquele tempo, em que a média de idades no sl era superior a 30 anos, e em que eu deveria ter uns 40, a comunicação era verdadeiramente a distância: só existiam dois teclados e dois cérebros. Ah... e um campo visual partilhado. Talvez por isso a Tese na área da Antropologia Visual (História para mais tarde), da PaulaJ.

Voltando à Musica, no facebook da June (ambos conhecemos o nome rl um do outro), estavam fotos de Portugal. Fiquei com uma vontade enorme de a ver com olhos e de a abraçar com braços, por tudo. Enviei mensagens mas só no outro dia ela me respondeu. As deslocações eram restritas e ia voltar ao Uruguai em um dia. Disse que tinha pensado em me conhecer mas que ficava para a próxima vez que viesse a Portugal.

Lembro-me nem da June: vivia (sl e rl) sozinha, com poucas exceções, provavelmente eu fui uma delas, no sl e, pelos seus relatos, umas duas exceções na rl. Só isso fazia sentido. Se fosse o inverso, percorrendo o país de alguém que fez parte da minha vida, eu quereria forçosamente encontrá-la.

Disse-lhe que estava disposto a vestir um saco de plástico só para a poder abraçar ao que sorriu.

Para a próxima June, Para a próxima.

Ozicawa City


terça-feira, 18 de agosto de 2020

Austrália tão longe e tão perto


Há muito tempo, vagueava numa praia australiana. Os detalhes são inesquecíveis e revelavam a preocupação de um Criador meticuloso.

Aqui uma árvore, onde se pendurava um koala, alguns Cangurus saltitavam no chão, tartarugas moviam-se lentamente em movimentos circulares.

O mar trazia o som real das ondas que se espraiavam em espuma na areia, e a música convidava ao romance.

Um rectângulo de erva marcava um bom sitio para dançar, e nos seus cantos pequenos fardos de palha empilhados prometiam mais que bons momentos de descanso.

O nome do Criador perdeu-se no tempo, mas só o nome: tinha cabelos compridos e um corpo magro. Vivia numa área de muita vegetação e, apesar de ter companhia, estendia o corpo lânguido na praia à mercê de um toque, de dedos que a tornassem harpa.

A comunicação era assim, dedos em letras, cérebros em dedos, e tudo era possível, pois entre cérebros, sem mais nada é assim.

Hoje, nos tempo de afastamento físico, exigido pelas circunstâncias, recordo em segredo, o que não se pode contar acerca da comunicação a distância: a terminologia própria, as palavras especificas, a tradução de sons e emoções, os momentos que em conjunto construíam aquelas e as faziam perdurar no tempo.

A Sedução aprendia-se, e aperfeiçoava-se essa arte: as mentes ligavam-se e sibilavam em conjunto em luz e vocábulos.

As palavras que escrevia, não há palavras que as possam descrever. Eram directas, como químicos, directas aos centros responsáveis pelas emoções.

Tanto que as pessoas desconhecem dessa arte da construção de relações. Tanto que perdem. Tanto que não encontro.

domingo, 7 de julho de 2019

Run from Metaverse for less

Had Run from Metaverse
for the smell
of a hair
And the touch
of a Skin
Now in each day
i have less of both.
Cant think anymore
on simple things.
A Kiss,
or a Hug
or make love.
It seams what was important
for me
is important only for me.
And so
day by day
i loose and forget
What i am.

domingo, 11 de novembro de 2018

5 ANOS DEPOIS

Todos estes anos depois, volto ao Metaverso, o que não é bom sinal. Vim para aqui à procura de algo, perdido, e agora venho para aqui sem procurar nada, perdido. No metaverso, cinco anos depois, ninguém se esqueceu de mim as velhas amigas continuam especiais e eu continuo especial. Penso eu ninguém de facto me entenderá nunca, ninguém para me ouvir ou conversar. Sou apenas um excêntrico.